06/07/11

Ruas com História - Raimundo dos Santos Natividade

Falar de Ruas com História é falar de Toponímia.
A Toponímia, em minha opinião, é muito mais do que uma “Placa” numa Artéria, tem algumas regras, muito simples, que de tão simples, quase nunca são cumpridas; mas não se pense que as “Normas Toponímicas” são uma panaceia para resolver todos os males, e são muitos, de que a Toponímia sofre, até porque, dos 308 Municípios existentes actualmente (provavelmente irão ser reduzidos), nem todos utilizam os mesmos métodos para a atribuição de nome a uma Artéria, e mesmo dentro do mesmo Município, por vezes são utilizados mais do que um critério, consoante se trate de zona rural ou urbana.
Para além da boa utilização das “Normas Toponímicas” existem, mais três coisas, que são fundamentais, a saber: “bom senso, bom senso e, ainda, bom senso”, quando estas regras forem utilizadas, a Toponímia fica mais rica (culturalmente) e mais eficaz, divulga-se Cultura e faz-se História.
Neste Mundo em que vivemos, mesmo depois de morto é preciso ter sorte, tenho falado e escrito muito sobre personalidades que figuram na Toponímia de um qualquer Município, hoje porém, quero falar de personalidades que, por muitas razões (ou por nenhuma razão) foram votadas, deliberadamente ou não, foram votados ao ostracismo.
É comum encontrar personalidades já desaparecidas, que tiveram desempenhos relevantes em grandes Empresas, como: Caminhos-de-Ferro (vulgo CP), Empresa de Tabacos, Alfândegas, etc., mas, por razões incompreensíveis, personalidades que trabalharam nos Correios de Portugal (CTT), pouco ou nada se sabe.
Os CTT, são de facto uma Empresa virada para o futuro, tecnologicamente evoluídos, mas qualquer estrutura sem alicerces fica com pouca consistência, os CTT esqueceram, desde há muito tempo a sua História, que é uma História rica, seja do ponto de vista empresarial seja do ponto de vista social.

Por isso, gostava de dar a conhecer hoje, uma personalidade típica que deu o melhor de si, no seu tempo aos CTT.
As linhas que se seguem são dedicadas a Raimundo dos Santos Natividade, dedicado Funcionário dos CTT.
Raimundo dos Santos Natividade, nasceu em Leiria, em 1838, e faleceu no Porto, em 1890. Durante muitos anos foi um dos mais prestimosos funcionários dos Correios, tendo a seu cargo a condução de malas (mala-posta) entre o Porto e Coimbra.
Possuía um carácter íntegro, de uma honestidade inconcussa, pundonoroso e cavalheiresco, merecendo a absoluta confiança dos seus superiores, a estima dos seus camaradas e a consideração dos comerciantes e capitalistas portuenses, que confiavam à sua guarda avultados valores. Habitualmente comentava: “se um dia aparecer morto, acreditem que me roubaram, mas se me virem roubado e com saúde podem assegurar que o ladrão sou eu”.
De uma coragem inaudita venceu sempre os maiores perigos, enfrentando os bandoleiros das famigeradas quadrilhas do João Brandão, Zé do Telhado, Guedelhas e Zé Pequeno que infestavam nesse tempo as estradas onde passava a mala-posta.
Todos estes malfeitores tinham-lhe respeito e até admiração pelas suas excelsas qualidades de destreza e audácia. Uma vez foi escolhido para levantar importantes documentos do Marechal Saldanha, Primeiro-Ministro da Rainha D. Maria II, que acidentalmente se encontrava no Porto, para o banqueiro Lisbonense Francisco Chamiço. Partiu daquela cidade a cavalo já depois do meio-dia, chegando ao Terreiro do Paço (Lisboa) pelas 7 e 30 do dia seguinte. Saldanha quis gratificá-lo por essa empresa com dez libras de ouro, gratificação, que ele preferiu que fosse substituída por uma espada do Marechal, o que sucedeu.
Mais tarde abandonou os CTT e montou uma alquilaria, (casa ou lugar onde se alugam bestas), que instalou nas proximidades da “Porta do Olival” antes de se fixar na sua casa da Rua Formosa. Também mandou construir uma praça de touros no antigo Largo da Aguardente (actual Praça Marquês de Pombal), onde passaram os toureiros equestres e de pé mais célebres daquele tempo. Chamavam-lhe o alquilador-aristocrata. Raimundo dos Santos Natividade foi, também, um óptimo cavaleiro tauromáquico.
Fonte. “Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira”

enviado por Manuel Cabaço Lopes, colaborador Tótó honorário

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