18/08/11

Pessoas que fizeram História - José Fontes Rocha

A Toponímia, melhor dizendo, a Antroponímia é semelhante ao Bacalhau, isto é: existem mil e uma maneiras de fazer Bacalhau.
Existem muitas definições para a Antroponímia; mais elaboradas, mais eruditas, mais académicas, mais complicadas, etc., eu prefiro uma definição mais simples: Para mim, em definição simples, a Antroponímia “São Histórias de Pessoas Que Fizeram História”.
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Faleceu na passada segunda-feira o Grande Guitarrista Fontes Rocha, não o conheci pessoalmente, mas assisti a espectáculos de Fado em que ele foi acompanhante, como Guitarrista era espectacular, como pessoa, deveria ser excelente pessoa, pois tinha muitos amigos.


José Fontes Rocha
José Fontes Rocha, nasceu a 20-09-1926, no Porto e faleceu a 15-08-2011, em Lisboa. Guitarrista e Compositor. Foi um dos mais destacados Guitarristas de Fado da sua geração. Descendente de uma família de Músicos, o pai tocava guitarra e violino e o avô paterno foi Regente e Compositor da Banda Filarmónica de Santiago, localidade próxima do Porto. Iniciou a sua aprendizagem musical (violino e solfejo) aos 12 anos de idade com o avô.

Aprendeu guitarra, de forma autodidacta, a partir dos 16 anos, tendo tomado contacto com o repertório do Fado de Lisboa e da Canção de Coimbra através da Emissora Nacional.

Exerceu a profissão de Electricista nos CTT – Correios, Telégrafos e Telefones (de então), dos 16 aos 30 anos de idade, tendo simultaneamente tocado guitarra como amador.

Em 1956 fixou-se em Lisboa, onde, dois anos mais tarde, começou a desenvolver uma carreira profissional como guitarrista, repartindo a sua actividade entre a actuação em Casas de Fado (O Patrício, Pampilho, na Calçada de Carriche, 1958; Adega Mesquita, no Bairro Alto, 1959-1967; Taverna do Embuçado, em Alfama, 1969-1974; Sr. Vinho, na Madragoa, 1961-1979) e o acompanhamento de Fadistas consagrados (Amália Rodrigues, Maria Teresa de Noronha, entre outros).

Ao longo da sua carreira, teve várias colaborações artísticas que configuraram o seu percurso: acompanhou Amália Rodrigues durante mais de 25 anos (1966-1991) em actuações no País e no estrangeiro; tocou com Raul Nery como segundo guitarra, em Casas de Fado (Taverna do Embuçado); integrou o Conjunto de Guitarras de Raul Nery durante oito anos (1959-1967); tocou com Carlos Gonçalves (segundo guitarra de Fontes Rocha em muitas das suas actuações com Amália Rodrigues).

Teve uma grande preocupação com a sonoridade e com as técnicas de execução da guitarra. Buscando uma sonoridade mais ampla (procura que o próprio atribui à exigência das obras compostas por Alain Oulman para Amália Rodrigues), optou por tocar numa guitarra de Coimbra, instrumento que se distingue do seu congénere de Lisboa sobretudo pela caixa de ressonância maior e mais arredondada, bem como pela afinação característica da canção coimbrã (um tom abaixo da afinação utilizada no Fado de Lisboa).

A sua preocupação com a sonoridade do instrumento levou-o igualmente a enveredar pela construção de guitarras, tendo construído o seu primeiro instrumento em 1973, segundo o modelo estabelecido por Artur Paredes e João Pedro Grácio. Desde então e até final do Século XX, fabricou 21 guitarras.

Influenciado por José Nunes, o seu estilo interpretativo enquanto acompanhador caracteriza-se por uma clara articulação das notas, pela utilização de contracantos constituídos por pequenas figuras melódicas ou, por vezes, por uma sequência cromática descendente de acordes executados em stacatto. Salienta-se o excelente encaixe entre as execuções de Raul Nery e Fontes Rocha no âmbito do Conjunto de Guitarras de Raul Nery, criando uma textura melódica entrelaçada que estabeleceu um modelo para os papéis do primeiro e do segundo guitarra no acompanhamento do fado.

Admirador da tradição musical coimbrã (sobretudo de Artur Paredes e de José Afonso, acompanhou cantores associados à Canção de Coimbra (Fernando Machado Soares, por exemplo), utilizando o estilo interpretativo característico daquela tradição, e executou arranjos instrumentais de sua autoria, do repertório da Canção de Coimbra, de José Afonso e de outras figuras da Música Popular Portuguesa.

Na introdução e no acompanhamento do Fado de Lisboa e nas variações de sua autoria utiliza, por vezes, acordes arpejados característicos da Canção de Coimbra, (por exemplo: Variações em Sol; Verde Pinho; verde Mastro).
Compôs fados e variações para a guitarra, dos quais se destacam:
  • Anda o Sol na Minha Rua (letra de David Mourão-Ferreira, interpretação de Amália Rodrigues);
  • Quentes e Boas (letra de José Luís Gordo, interpretação de António Mello Corrêa);
  • Fado Isabel (fado corrido cantado com várias letras por vários fadistas);
  • Lavava no Rio Lavava (letra e interpretação de Amália Rodrigues);
  • Trago o Fado nos Sentidos (letra e interpretação de Amália Rodrigues);
  • Até que a Voz me Doa (letra de José Luís Gordo, interpretação de Maria da Fé);
  • Meu Portugal, Meu Amor (letra de José Luís Gordo, interpretação de Maria da Fé);
  • O Teu Nome Meu Amor (letra de José Luís Gordo, interpretação de Maria da Fé);
  • Sou Daqui Deste Povo (letra de José Luís Gordo, interpretação de Maria da Fé);
  • Valsa em Si menor; Variações à Roda de Uma Valsa;
  • Variações em Sol Menor;
  • Evocação em Si Menor e Valsa em Si Menor.

A sua obra musical é muito extensa, composta por algumas centenas, não cabendo aqui, neste sítio a sua enumeração exaustiva, deixamos aqui, por isso, apenas alguns títulos:
  • Abraço sem abraço;
  • A água daquela fonte;
  • Apregoando cautelas;
  • Cantiga do semeador;
  • Destino marcado;
  • Lágrima;
  • Malmequer nunca mente;
  • Marcha da Madragoa;
  • A Mariquinhas vai à fonte;
  • Carta esquecida, etc., etc.

José Fontes Rocha recebeu o Prémio Amália Rodrigues Melhor Compositor de Fado em 2005.

Fonte: “Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX” (Direcção de Salwa Castelo-Branco, 4º Volume, P-Z, Pág. 1125 e 1126, Temas e Debates, Círculo de Leitores).

enviado por Manuel Cabaço Lopes, colaborador Tótó honorário

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