08/06/12

O caminho

Há vários dias que não via vivalma, lugar estranho aquele, só pedras e montes, urzes e arbustos, nem animal nem árvore. Animais, os que não queria ver, malditos insectos que lhe fustigavam a pele, já tinha babas e comichão mesmo nos sítios que não queremos imaginar.

Foi um dia com a cabeça cheia de ideias cinzentas, serra acima, sem norte, só com o rumo desnorteado dos seus pensamentos. Alguns não eram dele. A televisão e as suas noticias preocupantes, a crise para cá, a crise para lá, crimes e cortes ou cortes criminosos, desemprego, morte, fome, futebol. E ele que nem gosta de futebol... Perdeu-se.

A família chamou a polícia, procuraram-no durante dias, amigos, família, vizinhos todos deram palpites, a fotografia passou na televisão (e ele que não viu...), até que caiu no esquecimento e a vida de todos continuou. A namorada arranjou outro namorado, a irmã casou, o pai adoeceu, a mãe ficou com os cabelos todos brancos, o gato passou a dormir sozinho na cama dele, à espera do companheiro ou não, gato vadio era o dono, ele ficou com a cama só para ele.

Encontrou uma gruta onde se sentiu confortável, havia água fresca por perto, bagas comestíveis, acomodou-se. Foi ficando, perdeu a pressa de encontrar o caminho, a cada dia uma desculpa nova: "olha que aquela planta está quase a florir!; há que ver o pôr do sol amanhã de outro ângulo; parece que ouvi um resmalhar de um animal." Um dia chovia, um dia vento, um dia sol, cada dia um novo dia diferente para contemplar a natureza.

A cada manhã enchia o peito de ar puro e os olhos de verde e perdia-se nos seus pensamentos, a mãe era uma suave recordação, a irmã que tanto o irritava parecia-lhe agora ao longe uma cara amiga e divertida, do pai não se lembrava. Nunca foram próximos. O pai gostava de futebol....

Num dia de sol, igual a tantos outros, decidiu voltar.

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