23/12/12

Existe Ouro em Portugal


As Minas de ouro da Roda Cimeira, um tesouro descoberto pelos Romanos.
Sabia que existe na Serra da Lousã, uma das primeiras explorações de ouro, que há memória em Portugal?

A sua descoberta remonta aos 600 anos d.C., levada a cabo pelos romanos que as designavam por “Escádia Grande”. Estas minas estão localizadas ao longo da ribeira do Sinhel, na aldeia da Roda Cimeira, que acaba por dar nome às minas. Pertencem ao concelho de Góis, freguesia de Alvares.


Fonte: mototurismodocentro.com

Estas minas são ricas em Ouro, Prata e Cobre, porém actualmente sabe-se da existência, de elementos como Arsénio, Chumbo e Zinco.

Para além das minas este povo também nos deixou uma grande quantidade de achados arqueológicos, encontrados dentro e em redor das minas e talvez a “pedra Letreira” seja um desses legados. A "Pedra Letreira" é uma rocha onde se encontram gravadas figuras de arcos, flechas, alguns animais, cabeças humanas e sinais geométricos. Envolto em grande mistério, o significado destas figuras ainda não foi provado, nem tão pouco o que se diz na pedra. Uns dizem que se trata de um mapa codificado outros dizem que na pedra se lê:

"Em frente á Pedra Letreira
Há três minas em carreira:
Uma de ouro, outra de prata
E outra de peste que mata".


Depois dos romanos, foram os Árabes, com uma intensidade de exploração bem menor, prosseguiram com as explorações
até serem expulsos por D. Afonso III. Ainda se seguiram, os Cristãos aquando da reconquista.

O ritmo terá contudo decaído ao longo do tempo, até ao século XIX, altura em que, por todo Portugal, se deu uma forte retoma da actividade mineira, tendo atingido um máximo no decurso da 2ª Guerra Mundial.

Com a “Escádia Grande” as coisas não foram muito diferentes e duramente se trabalhou por esses anos naquela parte da Serra da Lousã, recrutando trabalhadores não especialistas pelas localidades vizinhas.

A concessão passa nessa altura da sociedade Minas da Serra da Lousã, Limitada (Irmãos Cardoso Pinto), para a CUF (Companhia União Fabril), que explorou entre 1938-39 e o ano de 1952.

Os registos de pessoal do período 1943 a 1950 mostram um efectivo variando entre os 83 e os 115 trabalhadores, 40% seriam operários de fundo e o restante 60% pessoal de superfície. Nos registos de produção os valores mostram que para o ano de 1952, totalizavam 46598 gramas de ouro e 169714 gramas de prata!

Em 1952 as Minas encerraram a sua exploração e assim permaneceram até aos nossos dias.

Hoje este Património de Arqueologia Industrial, está ao abandono total, não deixando por isso de ser um óptimo local a visitar. A exploração, parece que foi abandonada de repente e alguns dos edifícios encontram-se tal como foram deixados, houve até uma situação engraçada aquando duma visita, em que foi possível observar uma lista perdida do pessoal que trabalhava na exploração.

Dos “buracos” usados para a exploração de mineiro, alguns foram fechados pelas autoridades, por constituírem perigo para pessoas e animais, sendo que muitos deles ainda se encontram abertos apenas tapados pela vegetação. O cascalho que era retirado das minas ainda é visível na encosta como que uma herança destes tempos.

Se quiser ser garimpeiro por um dia e visitar estas minas, perca-se nas redondezas da exploração e quem sabe ainda encontra uma pedra com filão, não se admire, porque não há muito tempo aconteceu comigo!

Boa sorte.
 

Refúgio no Xisto

Serra da Lousã - Candal

N40° 4.9237', W008° 12.2328'

Telemóvel: 91 930 35 85

Refugionoxisto@hotmail.com

 

10/12/12

A fábrica das neves

A fábrica das neves da Serra da Lousã, no lugar de Santo António da Neve é uma das mais antigas fábricas das neves que há memória, sem no entanto, se conseguir identificar concretamente a sua idade. Habitualmente conhecidos como ”neveiros“, os depósitos, de forma circular, serviram para armazenar e compactar a neve que depois era transportada para Lisboa, onde satisfazia os desejos gelados da corte.
A sua construção é feita em pedra de xisto e barro, há semelhança de toda a arquitectura desta serrania. E estão cobertos por abóbadas de pedra em forma de sino achatado. Apresentam uma pequena porta para Nascente, como que para evitar que, quando o sol é mais forte, possa entrar e derreter a neve ali guardada. Apresentavam uma profundidade de dezenas de metros e tinham acesso por uma escada de mão. No seu interior, os homens com um grande cepo, calcavam a neve, à semelhança dos calceteiros de hoje, até que ficasse compacta num bloco de gelo, que cobriam com palha e fetos para que assim se conservasse. A recolha de neve era feita por mulheres e crianças, que a carregavam em pequenas cestas até aos depósitos. A azáfama era grande na época das neves e por isso vinham, contratados à jorna, habitantes de todos os lugares vizinhos
O transporte era feito em carroças por estradas mal pavimentadas até Constância, onde os blocos de gelo eram mudados para barcaças e seguiam por essa via até ao Terreiro do Paço, em Lisboa. A neve era muito bem acondicionada em serapilheiras e caixotes, mas claro que muita se perdia pelos caminhos tortuosos.
Este transporte era acompanhado de protecções legais, que obrigavam os povos dos lugares deste trajecto a prestarem auxílio com rapidez, bem como facilitarem a passagem da neve pelas portagens existentes, na altura.
Registos mostram que em 1782, se vendia Neve, no Martinho da Arcada, que em tempos se chamou “Casa da Neve”, por isso mesmo. Há outras notícias da existência em Lisboa, de poços destinados a armazenar a neve. Houve poços no bairro da Graça e até a torre Norte do Castelo de S. Jorge, do lado da Calçada de Santo André, sofreu obras para ser transformada em depósito de neve. Mais próximo do século XIX, a venda de neve foi difundida por vários botequins da capital, para satisfazer a alta burguesia da época, o que ajudava no sustento das gentes pobres da Serra da Lousã, que se tornaram devotas de Santo António e a ele rezavam para que nevasse, pois desta recolha, obtinham um importante e valioso sustento.

A fábrica da Serra da Lousã era composta por 7 neveiros, que são exemplo da determinação e coragem deste povo serrano, hoje restam 3 bem conservados.
por Karel
Refúgio no Xisto
Serra da Lousã - Candal
N40° 4.9237', W08° 12.2328'
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