Padre e Musicólogo
(28-11-1914) – (09-02-2003)
José Mendes de Alcobia, nasceu em Pias (Ferreira do Zêzere) e faleceu em Ferreira do Alentejo.
Colector e Regente. Formou-se em Filosofia e Teologia no Seminário Menor de Beja e, a partir de 1935, no Seminário Maior de Cristo Rei, dos Olivais. Aí estudou com Pascal Piriou, Professor e Compositor francês especialista em Canto Gregoriano e Mestre da Capela do Seminário. Nesta instituição iniciou-se como Organista, cargo que viria a ocupar definitivamente em 1938 e que o levou a estudar Canto Gregoriano. Em 1941 foi ordenado Presbítero, tendo sido colocado em diferentes Paróquias do Alentejo, onde desenvolveu significativo trabalho de recolha, investigação e divulgação do Canto Alentejano.
Influenciado pelas ideias de António Marvão sobre a origem do Canto Alentejano, interessou-se sobretudo pela comparação formal e estilística do Canto Alentejano com o Canto Gregoriano. Contactou com vários colectores e estudiosos de Música Tradicional (Fernando Lopes-Graça, Michel Giacometti, Abel Viana, entre outros, que o influenciaram. Ao longo de 50 anos de actividade, efectuou gravações do Canto Alentejano constituindo um espólio com várias centenas de horas de registos sonoros efectuados sobretudo no Concelho de Ferreira do Alentejo, onde documentou a maioria dos eventos musicais.
Dirigiu vários Grupos Corais Alentejanos, participando com estes em encontros, programas da Emissora Nacional, da Rádio Renascença e da RTP. Neste papel participou, em 1972 e 1979, no Festival Internacional de Folclore de Zagrebe, onde alcançou o 1º lugar com, respectivamente, os grupos corais Os Trabalhadores de Ferreira do Alentejo e Os Rurais de Figueira de Cavaleiros, o que lhe valeu a atribuição pelo Estado Português de uma Medalha de Mérito Turístico.
Em 1988 promoveu a reorganização do Grupo Coral Alma Alentejana de Peroguarda, Grupo gravado e divulgado por Michel Giacometti, por isso reconhecido como «verdadeiro representante da tradição» do Canto Alentejano.
O processo de recuperação que preconizou para o Canto Alentejano caracteriza-se pela preocupação com a selecção de um repertório tido por antigo, pela cuidadosa preparação dos cantores e pela recuperação
da indumentária considerada genuína, pretendendo com isso proporcionar um testemunho etnográfico credível. Além disso. Procurou esclarecer o público, através de uma explicação sobre as modas que compunham o programa.
Dedicou-se à divulgação das suas perspectivas sobre o Canto Alentejano através de jornais locais, de encontros, colóquios, palestras, concursos e debates. O seu trabalho re recolha é central para o estudo
do Canto Alentejano e garantiu-lhe grande prestígio junto dos Grupos Corais Alentejanos, dos eruditos locais e dos musicólogos.
Retirou-se das suas funções eclesiásticas em 2000, mantendo contudo, até ao final da vida, a sua actividade de «orientador» do Grupo Coral da GNR e articulista do Jornal de Ferreira (do Alentejo), onde abordou
temáticas musicais e religiosas.
O seu nome faz parte da Toponímia de Ferreira do Alentejo.
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Fonte: “Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX” (Direcção de
Salwa Castelo-Branco, 1º Volume, A-C, Pág. 24, Temas e Debates,
Círculo de Leitores)
por Manuel Lopes
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