|
Planisfério de Cantino |
É um dos primeiros mapas mundi e foi elaborado por um português, anónimo. É também um dos primeiros casos de espionagem que se conhece.
Este planisfério foi mandado elaborar por um nobre italiano, de nome Alberto Cantino, espião do duque de Ferraca Ercole D’Este. Sem uma data concreta para a sua elaboração, pensa-se que foi desenhado o mais tardar no ano de1502. Ora nesta data a Europa vivia suspensa nos descobrimentos onde o segredo era imperativo. Qualquer informação geográfica fornecida pelos navegadores portugueses era tratada com grande confidencialidade. Não podemos esquecer que a “estratégia” do Rei D. João II era “enganar” os Espanhóis com a descoberta da “América “.
E foi por isso que este hábil espião se deslocou a Lisboa, com o pretexto de comprar cavalos, se aprontou em recolher informações sobre os descobrimentos portugueses, que já naquele tempo tinham muita fama e causavam muita inveja por toda a Europa. Subornou um cartógrafo que lhe fez uma carta náutica com toda a informação geográfica secreta nos arquivos da casa da Índia em Lisboa.
O Planisfério de Cantino é hoje considerado uma obra prima da cartografia portuguesa e como carta geográfica é uma das mais importantes do mundo. É a primeira carta que representa o planisfério duma maneira mais completa: desde a Europa, América do Norte, Central e Sul, toda a África, a Ásia até ao Oriente.
É uma carta rica e com muito pormenor em topónimos. Revela a descoberta do “novo mundo”, conseguimos visualizar com algum detalhe a Costa da Florida. Notabilizasse ainda a demarcação do litoral brasileiro, e è também dada muita importância à fortaleza portuguesa que demonstra a importância da força militar.
Na Ásia, onde as naus portuguesas ainda se aventuravam timidamente, descreve-se com menos precisão a Índia, a China (pela primeira vez, representada num mapa ocidental, como “Terra dos Chins”) e a Indochina. Presume-se que, em relação a estes territórios, a sua concepção obedeça ainda a antigos mapas portulanos arábicos e a fontes secundárias.
Mas a parte que mais interessa é a ocidente dos Açores, isto é, as Terras Americanas. Nesta região vemos ao centro uma linha perpendicular - Linha do Tratado de Tordesilhas de 1494 a dividir o mundo entre Portugal e Espanha. Esta linha imaginária foi traçada a 370 léguas a oeste da ilha mais ocidental do Arquipélago de Cabo Verde, por exigência do Rei D. João II. O Tratado de Tordesilhas foi assinado em 2 de Julho de 1494. A cidade de Tordesilhas fica em Espanha entre Valhadolide e Salamanca. Os Reis Católicos, D. Fernando e D. Isabella de Espanha, queriam que a Linha de Tordesilhas fosse 100 léguas, apesar de estarem de combinação com o Papa Alexandre VI que era de origem espanhola, o Rei D. João II exigiu que fosse 370 léguas e ganhou.
Neste mapa a “Terra Nova” está incluída no hemisfério oriental, a metade da terra que pertencia a Portugal. Hoje sabemos que o Rei D. João II os ludibriou, porque eles não sabiam da existência da Terra Nova nem do território que originou mais tarde o Brasil.
Composto por três grandes folhas manuscritas coladas, o planisfério foi construído no sistema de rosa-dos-ventos, sobre o qual estão representados o Equador, os trópicos e a linha de Tordesilhas.
Uma das inovações mais importantes respeita à grande redução da extensão longitudinal do continente asiático, o que demonstra a profundidade de conhecimentos dos cosmógrafos portugueses.
Impressiona ainda a magnificência e a perfeição da iluminura. Paralelamente, e caracterizando a época e os seus costumes e tendências, encontram-se iluminuras referentes a criaturas imaginárias: o que não era conhecido fantasiava-se.
Demorou cerca de dez meses de trabalho e custou doze ducatos de ouros, um preço bastante elevado que demonstra a dificuldade e secretismo da Encomenda.
Constitui, por isso, um dos raros exemplares sobreviventes de convulsões políticas e económicas, sendo um testemunho importante do passado.
Presentemente guardado na Biblioteca Estense, na cidade de Modena, localizada ao norte de Bolonha, na Itália.
|
Detalhe da Costa Americana |
por Karel (a menina dos mapas)